CEMITÉRIOS: Fonte de contaminação
das águas subterrâneas
* Manoel Rodrigues da Silva –
manoeldagua@yahoo.com.br

Os antigos, por razões higiênicas e por temor, já selputavam
seus mortos longe das cidades. Esta prática perdurou até ao século IX, quando
em plena Idade Média européia, os sepultamentos começaram a ser feitos no
interior e em torno dos edifícios religiosos. Como conseqüência, no século
XVIII, os sanitaristas europeus começaram a questionar essa prática, baseando
suas criticas nos ruídos ouvidos nos túmulos e nos gases nauseabundo
provenientes da decomposição dos cadáveres, inadequadamente sepultados.
A prática dos sepultamentos nas igrejas, mosteiros e
conventos, foi implantada no Brasil, pelos colonizadores portugueses, que
trouxe pra cá, os hábitos e costumes europeus.
O necrochorume é constituído de água, sais minerais,
proteínas e 471 substâncias orgânicas, incluindo duas diaminas, que são muito
tóxicas, a cadaverina e a putrescina, além de vírus e bactérias. Desse modo, os
cemitérios são fontes potenciais de impactos ambientais, principalmente quanto
ao risco de contaminação das águas subterrâneas e superficiais por bactérias e
vírus que proliferam durante os processos de decomposição dos corpos, além das
substancias químicas liberadas. Esta água contaminada, por sua vez
freqüentemente acaba sendo utilizada pelas populações vizinhas às necrópoles.
Cessada a vida, anulam-se as trocas nutritivas das
células e o meio acidifica-se, iniciando-se o fenômeno transformativo de
autólise. Enterrado o corpo (inumação ou entumulamento), instalam se os
processos putrefativos de ordem físico-química, em que atuam vários
microorganismos.
A putrefação dos cadáveres é influenciada por fatores
intrínsecos e extrínsecos. Os intrínsecos são pertencem ao próprio corpo, tais
como: idade, constituição física e causa-mortis. Os extrínsecos são pertinentes
ao ambiente onde o corpo foi depositado, tais como: temperatura, umidade,
aeração, constituição mineralógica do solo, permeabilidade, etc.
O corpo humano, em sua constituição apresenta cerca de
65% de água, com relação ao peso. Os indivíduos magros apresentam um conteúdo
de até 75% de água, enquanto que os indivíduos gordos apresentam até 55% de
água. Dessa maneira um indivíduo adulto que tenha 70 kg tem um conteúdo da
ordem de 46 kg
em água, ou seja, 0,60 L/kg.
Com a decomposição dos corpos há a geração dos
chamados efluentes cadavéricos, gasosos e líquidos. Os efluentes líquidos
chamados de necrochorume, que são líquidos mais viscosos que a água, de cor
acinzentada a acastanhada, com cheiro acre e fétido, constituído por 60% de
água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas degradáveis, dentre
as quais, duas diaminas muito tóxicas que é constituída pela putrescina (1,4
Butanodiamina) e a Cadaverina (1,5 Pentanodiamina), dois venenos potentes para
os quais não se dispõem de antídotos eficientes.
Portanto é necessário que o poder público crie
mecanismo para evitar que a população que assiste próximos a cemitérios não
utilizem água subterrânea em detrimento as condições geológicas, pois o
necrochorume atinge o lençol freático praticamente íntegro, com suas cargas
químicas e microbiológicas, desencadeando a sua contaminação e poluição.
*O autor é funcionários publico estadual, graduado em
Ciências Naturais – Biologia pela UEPA e autor do livro “Potabilidade da água
Subterrânea em Marabá”